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CARTA DE APOIO AO CAPSi DE SERRA

Para: Sociedade civil

CARTA DE APOIO AO CAPSi DE SERRA

“eu queria avançar para o começo, chegar ao criançamento das palavras”
Manoel de Barros

O poeta Manoel de Barros, mesmo já ultrapassados seus 90 anos, nos alertava que a infância não é só uma fase da vida, mas um sentimento que devemos carregar e praticar, nunca esquecer ou calar, o que nos convida a permitir viver e ver o novo todos os dias, a descobrir e inventar vida no nosso cotidiano.
E é assim, com olhos e sentimento de infância, que o Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi) de Serra abre suas portas.
As estimativas de saúde indicam que entre 10% a 20% da população de crianças e adolescentes sofram de transtornos mentais e, desse total, 3% a 4% necessitam de tratamento intensivo. Entre os males mais comuns estão a deficiência mental, o autismo, a psicose infantil e os transtornos de ansiedade. Além disso, é com preocupação que observamos o aumento do uso de drogas e de suicídio entre crianças e adolescentes. Esse é o público atendido pelo CAPSi.
O CAPSi de Serra iniciou sua história em 2009 com o projeto técnico elaborado por trabalhadores da saúde mental e caminhou com passos vigorosos de um grupo de profissionais que a partir de 2010 se debruçou de forma mais intensiva em ações que culminaram na implantação do Ambulatório de Saúde Mental Infantojuvenil em 2016, chegando a contabilizar mais de 270 crianças e adolescentes atendidos.
É importante observar que o CAPSi de Serra é o segundo CAPS para crianças e adolescentes do Espírito Santo, que até então só contava com um serviço desse tipo, no município de Vitória. Isso mostra a importância desse Serviço e de afirmarmos seu espaço.
Sabemos que historicamente o modelo de assistência a crianças e adolescentes foi marcado por medidas de exclusão, amparadas em uma lógica higienista que relegava o “cuidado” de crianças e adolescentes a grandes instituições, bem afastadas do convívio social. Em outras palavras, crianças pobres e/ou com algum tipo de sofrimento mental grave eram deixadas à margem da sociedade, bem longe, onde nossos olhos não pudessem alcançar. O resultado dessas medidas foi desassistência, exclusão e abandono.
Assim também foi a história do tratamento das pessoas com sofrimento mental intenso: abandonadas em grandes hospitais superlotados, perderam laços familiares e sociais, afastaram-se do convívio com o mundo e com as mudanças que aconteciam e foram vítimas de vários tipos de violências.
Hoje, temos clareza de que excluir não é cuidar, que o isolamento é a negação da vida, e que deixar de olhar para questões como essas só produz mais sofrimento. Cuidar é estar junto, próximo, de mãos dadas.
A proposta da Saúde Mental e da qual o CAPSi faz parte é cuidar no território, perto de onde as pessoas vivem, junto com suas famílias. Em vez de isolar, queremos ampliar os espaços de trocas dos meninos e meninas que vêm ao CAPSi, e para isso é preciso contar com todos: família, comunidade, saúde, escola, esporte, cultura, instituições religiosas e comunitárias, assistência social, sistema de garantia de direitos e quem mais quiser compor com esse projeto de cuidado com gosto de vida e gosto de infância.
Com isso em vista, ficamos surpresos e profundamente entristecidos com a reação de alguns moradores do bairro Morada de Laranjeiras, na verdade a região do bairro reconhecida por estes como Portal de Manguinhos que, mesmo depois de reuniões ocorridas com representantes da gestão da Secretaria de Saúde e representantes do próprio CAPSi, se opuseram ao funcionamento do serviço, manifestando expressões preconceituosas que vimos circular como “centro de viciados” e “cracolândia” e ameaças à equipe do local. Esse movimento constrange os profissionais no exercício de seu ofício e intimida crianças, adolescentes e familiares que necessitam do serviço. Além de mostrar preconceito e intolerância, essas manifestações consistem também em violações de direitos e coadunam com aquele panorama de exclusão que buscamos combater.
Uma das afirmações contrárias ao CAPSi que tem circulado é da impossibilidade de que crianças e adolescentes com transtornos e/ou deficiências mentais sejam cuidadas pelo mesmo serviço que crianças e adolescentes que possuem problemas relacionados ao uso de álcool e drogas. Antes de tudo, devemos ter claro sempre que crianças e adolescentes são crianças e adolescentes! São pessoas, sujeitos de direitos, cidadãos e não podem ser diminuídos a categorias como “viciado”, “louco”, “cracudo”, “marginal”. Cada criança e cada adolescente tem um rosto, um nome, uma história e todas as singularidades que fazem parte dos seres humanos.
Ainda, é importante esclarecer que o CAPSi é parte de uma política nacional de atenção em saúde mental. Parte dessa política de atenção abrange afirmar crianças e adolescentes em sua integralidade e o cuidado como um direito primordial e dever de toda a sociedade. Estudos nos mostram que o uso nocivo de álcool e drogas entre crianças e adolescentes está associado a vários fatores de risco - entre eles o preconceito e a exclusão - e que vem sempre acompanhado de sofrimento, tanto para aqueles que usam, quanto para seus familiares. Além disso, os estudos apontam também para a relação que pode existir entre esse uso nocivo e a existência de outros transtornos mentais. A equipe do CAPSi é formada por diferentes profissionais capazes de olhar para esses sujeitos em sua integralidade, ou seja, como um todo, e não como partes separadas e classificações diagnósticas, oferecendo assim uma atenção de qualidade. É portanto, de extrema importância garantir o direito de que crianças e adolescentes com problemas relacionados ao uso de álcool e drogas e seus familiares também sejam assistidos pelo CAPSi.
Por outro lado, ficamos muito felizes em saber que essa não é a posição da Associação de Moradores de Morada de Laranjeiras, legalmente reconhecida como representante do bairro, tampouco expressa o desejo da população de Serra, que tanto pode se beneficiar desse serviço.
Sabemos que a política de Saúde Mental ainda tem muito que avançar, mas a proposta do cuidado em saúde mental inserido no território só pode ser feita de forma integral se contar com a participação e o acolhimento da comunidade.
Tentando chegar novamente ao começo, ao criançamento das palavras, convidamos a todos a integrar o movimento de fortalecimento da Saúde Mental. Com isso, as entidades abaixo assinadas vêm manifestar seu apoio ao CAPSi de Serra, seus profissionais, pacientes e familiares assistidos, e repudia as manifestações de oposição ao serviço.


I Juizado da Infância e Juventude de Serra
Apoio a Perdas Irreparáveis (API)
Associação de Terapia Familiar do Espírito Santo (ATEFES)
Centro de Estudos e Pesquisa em Epidemiologia Psiquiátrica (CEPEP)/UFES
Centro de Estudos de Psiquiatria do Espírito Santo (CEPES)
Coletivo Mães Eficientes/ES
Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do Espírito Santo (CRIAD)
Conselho Estadual em Defesa dos Direitos das Mulheres do Espírito Santo (CEDIMES)
Conselho Estadual sobre Drogas (COESAD)
Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CREFITO) - 15ª Região
Conselho Regional de Psicologia (CRP) - 16ª Região
Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) - 17ª Região
Equipe Técnica do II Juizado da Infância e Juventude da Serra
Fórum de Assistentes Sociais e Psicólogos do Poder Judiciário do Espírito Santo
Fórum de Mulheres do Espírito Santo
Fórum Metropolitano Sobre Drogas/ES
Grupo Capixaba de Lutas Sociais
Grupo Condutor Regional da Rede de Atenção Psicossocial (GCR-RAPS) - Região Metropolitana
Grupo Condutor Regional da Rede de Atenção Psicossocial (GCR-RAPS) - Região Sul
Grupo de Estudos Fênix/UFES
Grupo de Pesquisa Políticas Públicas e Práticas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial/UFES
Grupo de Trabalho de Prevenção ao Suicídio no Espírito Santo
Núcleo da Infância e Juventude da Defensoria Pública do Espírito Santo
Movimento Nacional dos Direitos Humanos (MNDH) - Espírito Santo
Núcleo Estadual da Luta Antimanicomial/ES
Pastoral do Menor da Arquidiocese de Vitória
Programa de Extensão "Atenção à Saúde Mental de Crianças e Adolescentes"UFES
Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva/UFES
Programa de Pós Graduação em Psicologia Institucional/UFES
Secretaria de Saúde da Serra/Área Técnica de Saúde Mental da Serra
Sindicato dos Psicólogos do Estado do Espírito Santo (SINDPSI-ES)
Unidos pelo CAPS/UVV




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