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CMDPcD não me representa!

Para:  CMDPcD - Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, representado pela Sra. Mirella Prosdócimo - secretária deste Conselho da Prefeitura de Curitiba/PR

Meu nome é Rachel Coelho, eu tenho 28 anos e moro em Porto Alegre/RS. Sou deficiente desde 22 de novembro de 2013, devido a um acidente de trânsito, onde o indivíduo do carro que me atropelou não prestou socorro. Fiz mais de 13 cirurgias na perna, olho, punho, mão e cabeça. Tenho 20% de visão no olho direito e 90% no olho esquerdo. Caminho com ajuda de muletas e às vezes de cadeira de rodas. Nunca mais vou correr ou fazer boxe novamente. Quase não saio de casa, o Brasil não é um país com muita acessibilidade para pessoas deficientes. Tenho dificuldade para andar de ônibus. Alguns deles não tem entrada para cadeira de rodas ou então nem param para cadeirantes. Os motoristas e os passageiros não tem muita paciência. Eu estudo Letras na PUCRS. Lá tem um prédio que não tem rampa e nem elevador. A entrada da universidade não é coberta, já peguei muita chuva de muletas e de cadeira de rodas, porque não consigo segurar o guarda chuva também. Tenho dificuldade de andar nas calçadas. Quando elas não tem rampas, tem um monte de buracos. Os sinais de trânsito na minha cidade não tem aviso sonoro para deficientes visuais. Quando eu olho para a sinaleira, não consigo discernir se ela está vermelha ou verde, tenho dificuldade em ver certas cores e coisas que se movimentam rápido, como carros e motocicletas. Para você que tem o seu corpo funcionando perfeitamente, a vida é muito mais fácil. Eu já andei e enxerguei um dia. Eu não nasci deficiente, eu me tornei.

Meu nome é Beatriz Trianoski, sou de Santos/SP, tenho 17 anos. Nasci com deficiência visual congênita, pois meu nervo óptico não se desenvolveu direito – é pequeno – e, com isso, tenho em média 5% da visão. Gostaria de ressaltar a situação de deficientes nas escolas, que é de exclusão total. Colocam o aluno em uma sala regular sem recurso nenhum para ele “se virar” do jeito que conseguir. A minha mãe já teve que ficar comigo na sala de aula para ler o que a professora estava escrevendo na lousa. Uma vez, um aluno teve que ler a prova para mim, para que eu conseguisse fazê-la.

Meu nome é Camila Pavan, moro em São Paulo/SP, tenho 25 anos, sou irmã do André, um moço de 29 anos com síndrome do x frágil. Embora a síndrome do x frágil seja a segunda causa de deficiência genética depois da síndrome de down, provavelmente você nunca deve ter ouvido falar neste nome, muitos médicos também não, por isso nós recebemos o diagnóstico correto há menos de 5 anos. A vida de um deficiente intelectual aqui no Brasil não é aquele mar de rosas que passa no programa do fantástico, muitos pais tem dificuldades para matricular seus filhos na escola, na aula de natação, no judô, aula de teatro ou qualquer outra atividade, e quando conseguem são obrigados a pagarem mais, o único motivo? Um filho deficiente! As terapias são caras, e quando existe alguma gratuita, existe fila com espera de mais de 1 ano. Não existem profissionais e nem pessoas preparadas pra conviverem com pessoas com deficiência. Alguns pais proíbem os filhos de brincarem com uma criança deficiente intelectual, outros olham feio na rua, algumas pessoas falam "ai tadinho" quando contamos que temos uma pessoa com deficiência na família, ou olham com cara de piedade. Nós não queremos sua piedade, só queremos que nossas pessoas com deficiência tenham uma vida digna e com respeito.

Na segunda feira, dia 30 de novembro de 2015, a internet teve apenas um assunto, o outdoor do “Movimento Pela Reforma de Direitos”, de uma página do facebook que pedia o fim dos privilégios dos deficientes. Todos acharam um absurdo. Outros nem tanto e até concordaram.

Nós nos mobilizamos contra isso, compartilhamos no instagram, facebook, whatsapp. Nós e nossas famílias, incluindo nossos amigos mais próximos, dormimos mal por causa disso. Nos incomodou, fez alguns chorarem por se lembrarem de suas trajetórias ou por situações vivenciadas no passado.

Na terça feira, dia 1º de dezembro de 2015, às 14 horas, descobrimos que tudo não passou de uma campanha publicitária viral.

Para nós, deficientes, familiares e amigos, esses dois dias foram apenas momentos de raiva, indignação, tristeza e revolta.

Até onde isso que nós passamos valeu a pena? Os deficientes e as pessoas conscientizadas eram o alvo? Nossa história de vida e nossa dignidade são irrelevantes?

Essa campanha, de extrema insensibilidade, foi um desfavor imensurável. Um marketing frio e desorganizado, trajado numa publicidade onde humilhar a vítima era em defesa da própria vítima.

Nós lutamos pelo direito de sermos respeitados como deficientes, inclusive no que diz respeito a uma campanha publicitária, seja ela feita por uma deficiente ou por um não deficiente.

Ninguém desse “movimento” avisou seus protagonistas que tudo aquilo era apenas uma “jogada publicitária”, nós realmente fomos ofendidos sem nenhuma preocupação se aquilo nos afetaria psicologicamente ou não.

A pseudo campanha de valorização e visibilidade, pasmem, foi criada por deficientes, dos quais esperávamos um mínimo de sensibilidade em prever o impacto que poderia ser causado nos que convivem com alguma pessoa deficiente diariamente e, principalmente, nos outros deficientes de longa data e nos novos, que ainda se sentem diminuídos com facilidade.

Além disso, não obstante menosprezar a vida e a dignidade dos seus protagonistas, isso serviu como abertura para as mais de 1000 pessoas que curtiram a página e que apenas aguardavam o momento para assumirem publicamente seu preconceito: "concordo, se a pessoa quiser, ela que levante e corra (ironia com cadeirantes) atrás igual todo mundo".
Cabe ressaltar, ainda, que a campanha era voltada para deficientes e o público em geral, porém, não tinha descrição nas imagens para quem não enxerga, tampouco legendas e interprete de libras nos vídeos. Se foi para os deficientes para os demais, então, no mínimo, deveria ser modelo em acessibilidade. Qual o intuito de uma campanha para deficiente que não atende as necessidades deles? Incluir excluindo?

Nessas duas noites, a pessoa que desrespeita um deficiente, dormiu bem. Nós todos não. Nossas famílias não, porque quem se indignou nas redes sociais foram os deficientes e seus amigos e familiares. Ou então as pessoas de bom senso social. E agora, notem, a grande maioria que está aplaudindo e defendendo essa campanha é feita de pessoas não deficientes ou que não convivem com essa realidade.

Ser deficiente é uma questão de vida. Nossas vidas não são como algumas pessoas dizem “hoje em dia, se ofendem com tudo”. Somos importantes. Todos os deficientes são importantes.

Essa ofensa diz respeito ao que somos. Não é uma discussão sobre time de futebol, filmes ou gostos culinários.

São vidas.

Essa campanha nos machucou, enquanto pessoas, enquanto seres humanos. As nossas deficiências foram menosprezadas e rechaçadas, e não é assim que se defende uma ideia, pisando em cima e depois pedindo desculpas. Isso é anti pedagógico. Não é expondo as pessoas deficientes a gatilhos emocionais que vamos acabar com o desrespeito do agressor.

Da maneira como isso foi feito, eles apenas estão constrangendo e machucando ainda mais. Não se educa ou estimula alguém a uma determinada atitude com uma informação negativa, dando margem a quem pensa dessa maneira e estimulando ainda mais esse tipo de propaganda abusiva. Esse tipo de marketing nunca poderia gerar positividade nos que nela são protagonistas.

Essa campanha da Prefeitura de Curitiba, foi mal elaborada, sem uma visão abrangente de valores necessários para o entendimento e respeito aos direitos, necessidades e desejos das pessoas de diferentes deficiências.

Nós, deficientes de diferentes tipos, familiares, amigos e parceiros da causa, não nos sentimos representados por uma campanha que nos menospreza e depois nos pede desculpas. A nossa luta tem valor. A nossa história deve ser respeitada. Não merecemos ser atacados com a falsa intenção de sermos defendidos. Isso não é humano.

Até onde vai o limite da expressão livre e da minha dignidade?

Algo assim não pode passar despercebido e impune, caso contrário, estaríamos dando aval para a publicidade racista, homofóbica, misógina e de todo o tipo de segregação social. Estaríamos dando um “okay” ao discurso de ódio travestido de liberdade de expressão, estaríamos concordando com a publicidade que falsamente valoriza, quando na realidade acaba por afrontar.

Viemos aqui, unidos, portanto, para EXIGIR A RETRATAÇÃO PÚBLICA do CMDPcD - Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, representado pela Sra. Mirella Prosdócimo - secretária deste Conselho da Prefeitura de Curitiba/PR, dirigida a todos os deficientes que foram humilhados e menosprezados em prol de uma campanha publicitária exclusivista e mal elaborada, pois nossas lágrimas e nossa tristeza não poderão ser revertidas, cabendo, pois, senão, o pedido de desculpas solene a cada um de nós, aos nossos amigos, aos nossos familiares e a essas vidas que foram abaladas




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