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Abaixo-assinado Manifesto a Respeito da Atual Situação da Igreja Metodista

Para: Colégio Episcopal da Igreja Metodista

Manifesto a Respeito da Atual Situação da Igreja Metodista

Nós, membros leigos, leigas, clérigos e clérigas, manifestamos nossa preocupação com a atual conjuntura da Igreja Metodista, denominação à qual pertencemos e onde exercemos nossa vocação cristã e nosso chamado de vida.
A Igreja Metodista, ramo do cristianismo protestante surgido como resultado do avivamento evangélico de John e Charles Wesley, tem se destacado na atuação constante e presente na sociedade, visando o testemunho do Espírito Santo através do exercício de atos de piedade (participação nos cultos, sacramentos, exercícios devocionais e de oração) e atos de misericórdia (vestir o nu, alimentar o faminto, visitar o preso e o enfermo, abrigar o peregrino). Neste propósito de avivamento e santidade, conforme a compreensão dos irmãos Wesleys, que não concebiam santidade que não fosse santidade social, a Igreja Metodista foi pioneira na Inglaterra na fundação de escolas públicas para abrigar os filhos e filhas dos mineiros e operários, pioneira no movimento das escolas dominicais, que em sua origem além do ensino bíblico visava o ensino de gramática e matemática para crianças abandonadas e em situação de rua na época da revolução industrial, pioneira na luta por justiça social combatendo ativamente o tráfico escravagista e atuando fortemente pela reforma e humanização do sistema prisional e pioneira na criação de um sistema de enfermarias e caixas de empréstimos para atendimento às populações mais carentes de sua época.
A Igreja Metodista estabeleceu-se no Brasil através do trabalho missionário de Spaulding, Kidder e outros, a partir do ano de 1836. Muito embora tal projeto missionário fosse de matriz liberal-conservador, de cunho guerreiro-salvacionista e desta forma rejeitando a cultura brasileira e sua matriz, a Igreja Metodista foi pioneira no Brasil no campo educacional, através da colaboração de Martha Watts; no campo social, com a implantação do Instituto Central do Povo, através de Tucker; na assistência à saúde, principalmente na assistência aos portadores de hanseníase, através do trabalho de Eunice Weaver; na participação política cidadã e republicana, pioneira entre os evangélicos até então alheios às preocupações com a sociedade em geral, através de Guaracy Silveira e Ruy Ramos e no uso do rádio e da televisão para a pregação do evangelho, através de Joel Jorge de Mello. Tais pioneiros e pioneiras metodistas em terras brasileiras esforçaram-se para a perpetuação do legado espiritual de John e Charles Wesley, a despeito de suas limitações.
Posteriormente, com o estabelecimento missionário nos mais diversos países do mundo, a Igreja Metodista continuou pioneira ao fazer parte dos mais diversos organismos ecumênicos, nos EUA, na Inglaterra, na Europa, América Latina e no mundo, na grande maioria dos casos como membro-fundador. A Igreja Metodista é membro-fundador do Conselho Mundial de Igrejas, do Conselho Latino Americano de Igrejas, da Confederação Evangélica do Brasil, do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Brasil), da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Brasil) e de organismos ecumênicos nos EUA, Reino Unido, Europa e nas demais localidades do mundo. Esta convicção, a de que a unidade de testemunho dos cristãos é um imperativo, sempre foi um elemento impulsionador da missão como libertação integral dos seres humanos do pecado e das forças promotoras da morte. A Igreja Metodista, ainda no século XIX, foi pioneira no desenvolvimento do conceito de Evangelho Social, culminando no fato de ser a primeira igreja a desenvolver um Credo Social, um documento doutrinário basilar que orienta e guia seus membros no exercício cidadão da fé. A Igreja Metodista também é pioneira no reconhecimento e valorização da vocação feminina, desde a época dos irmãos Wesleys, sendo em todas as localidades onde está instalada uma das primeiras (senão a primeira) igrejas a aprovar a ordenação presbiteral de mulheres, garantindo direitos iguais e agindo de maneira contundente em favor da igualdade de gênero.
Portanto, causa-nos preocupação a atual situação da Igreja Metodista que, para muitas pessoas, constitui ruptura com a longa e gloriosa trajetória de lutas e conquistas em favor do Reino de Deus e da libertação das pessoas das estruturas promotoras da morte, da exclusão, da discriminação e da opressão.
a) Lamentamos e expressamos nossa perplexidade com a intervenção do Colégio Episcopal na autonomia universitária da UMESP e nos atos arbitrários cometidos contra docentes da Faculdade de Teologia. O curso de teologia da Igreja Metodista oferecido na UMESP é reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e avaliado como uma das melhores graduações em teologia em no país. Tal status foi conquistado através da dedicação e excelência acadêmica dos profissionais da UMESP e da FATEO. Há quase cem anos os professores são escolhidos conforme recomendação de Paulo em I Timóteo 5.17: "Devem ser considerados merecedores de dobrada honra os presbíteros e presbíteras que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino". Há tempos a Igreja vem escolhendo homens e mulheres com vocação pastoral reconhecida, que além de pastores e pastoras, cultivam a pesada disciplina do estudo, qualidade tão estimulada pelo próprio John Wesley. Estes servos e servas que, além de presidirem bem à Igreja como pastores e pastoras se afadigam no ensino, há tempos confirmam esta dupla vocação com as nomeações pastorais que recebem ao lado da labuta disciplinada do ensino, como contribuem com reflexões e comunicações não apenas nos inúmeros encontros da Igreja pelo país, como por meio de seus escritos. Nossos professores e professoras da FATEO têm atestado publicamente serem homens e mulheres de Deus. Por isso mesmo, face à inequívoca competência acadêmica acumulada, conseguiram fazer nosso curso de teologia reconhecido pelo MEC, conforme os rigorosos critérios daquele órgão. O curso de pós-graduação (strictu sensu) em Ciências da Religião é um curso avaliado como nota cinco pela CAPES/MEC, e tal situação só é possível pelo fato de que na pós-graduação a ênfase nos estudos é na produção de conhecimento científico, não no estudo de doutrinas denominacionais.
Desta forma, sendo a graduação em teologia e a pós-graduação em ciências da religião cursos oferecidos à comunidade em geral, não apenas aos membros da Igreja Metodista, com cobrança de anuidade de acordo com valores de mercado, não nos parece ético que critérios casuísticos sejam adotados para a imposição de medidas que visam restringir a produção de conhecimento, alinhando-o à linha teológica hegemônica adotada pelo Colégio Episcopal, nem que a Igreja Metodista beneficie-se das mensalidades pagas pelos alunos e alunas que não fazem parte da Igreja Metodista para financiarem um seminário confessional.
Parece-nos razoável que a Igreja Metodista mantenha seminários confessionais para a formação de obreiros e obreiras de acordo com a doutrina e orientação teológica estabelecidos pela Igreja Metodista em seus Concílios Gerais, como atualmente é o caso do Seminário Metodista César Dacorso Filho, na 1ª Região, que se estabeleceu como curso livre, sem reconhecimento do MEC, para atendimento das necessidades da Igreja Metodista. Todavia, não nos parece razoável que a igreja venha a se locupletar com os recursos financeiros obtidos pelas instituições de ensino, cujo funcionamento é regulamentado pelo Ministério da Educação e Cultura, tendo em vista a imposição de pensamento.
b) Lamentamos e expressamos nossa preocupação com a postura autoritária, que busca calar vozes discordantes e divergentes, ao invés de estabelecer um proveitoso diálogo com vistas ao enriquecimento da experiência cristã através do exercício dos múltiplos dons e vocações. Tem-se multiplicado na Igreja Metodista, a partir do XVIII Concílio Geral da Igreja Metodista, realizado em 2006 em Aracruz-ES, exemplos de constrangimentos, perseguições, punições, retaliações, alijamentos e expulsões de membros nas diversas Regiões Eclesiásticas, tanto em nível local, distrital, regional e geral. Quando um membro da Igreja Metodista, seja leigo, leiga, clérigo ou clériga, sofre um processo de perseguição em sua maioria ilegal, esse membro não encontra guarida nas instâncias internas de mediação de conflitos, sejam as Comissões Regionais de Justiça, Comissão Geral de Constituição e Justiça, bispo ou bispa presidente de região ou Colégio Episcopal. Mais de uma vez membros da igreja que buscaram as instâncias internas visando à mediação e solução de conflito foram ignorados, tendo suas queixas sido arquivadas pelos presbíteros e presbíteras competentes. Tais presbíteros e presbítera com nomeação episcopal não tem o direito de ignorar os Cânones, Manual de Disciplina e Código de Ética Pastoral como fizeram nesses casos. Os bispos e bispa são presbíteros e presbítera eleitos e eleita conciliarmente para supervisionarem a Igreja, não se constituindo como ordem ou classe diferenciada de clérigos e clérigas. Na Igreja Metodista o episcopado é visto como cargo e como serviço, sendo o bispo ou bispa submissos aos Cânones e aos Concílios, não o inverso.

Preocupa-nos que cada vez mais o ministério episcopal da Igreja Metodista seja caracterizado pelo abandono das tradições democráticas, conciliares e canônicas que marcam a atuação do metodismo no mundo todo desde sua constituição como corpo eclesiástico independente, primeiramente nos Estados Unidos e depois na Inglaterra. Preocupa-nos que o ministério episcopal na Igreja Metodista esteja cada vez mais parecido com ministérios autointitulados apostólicos, que confere ao líder da igreja ou denominação poderes absolutos para decidir sobre os destinos da igreja e de seus comandados, sem que tal líder autocrático e personalista tenha de se subordinar a um sistema conciliar, conexional e canônico.

Desta forma manifestamo-nos contra a existência da figura do “Ato de Governo”, que é um instrumento autoritário e ditatorial, reminiscente dos Atos Institucionais utilizados pelo governo de exceção do Brasil. A Igreja Metodista é dirigida canonicamente pelos Concílios (local, distrital, regional e geral) e em seus interregnos pelas Coordenações de Ação Missionária (local, distrital, regional e geral). Portanto, é teologicamente e legalmente estranho ao metodismo a figura do episcopado monárquico, tal como existe nas Igrejas Católicas e Ortodoxas, ou a figura do episcopado autocrático conforme o modelo empresarial adotado pelas novas comunidades evangélicas de matriz neopentecostal.

c) Expressamos nossa grande preocupação com a atual falta de transparência na gestão de recursos financeiros e gastos por parte da liderança da Igreja Metodista. As igrejas locais estão enfrentando desde final de 2011 processos de bloqueio judicial de seus recursos financeiros (contas correntes, poupanças e aplicações financeiras) com objetivo de quitar a imensa dívida trabalhista do Instituto Bennett. Até o presente momento não houve nenhuma comunicação oficial por parte do Colégio Episcopal esclarecendo à membresia leiga, que vê os frutos de suas contribuições financeiras e de sua dedicação no exercício da missão bloqueado de maneira aparentemente sem relação com sua atuação local. A situação financeira das instituições educacionais da Igreja Metodista, que são fonte de renda para custeio de despesas das Regiões e da Sede Nacional, através da transferência de recursos a título de aluguel, precisa se tornar pública para a membresia da igreja, bem como a publicação de balancetes mensais e planilhas de custos detalhadas.

d) Apelamos ao Colégio Episcopal para que revejam as decisões que tem tornado a Igreja Metodista cada vez mais isolada e sectária e cada vez menos alinhada à tradição e história metodista, de respeito, tolerância, pluralidade e cooperação missionária. Causa constrangimento o fato de termos na figura do revmo. Paulo Lockmann o presidente do Concílio Mundial Metodista eleito na mesma reunião que o corpo que congrega as igrejas de tradição metodista aprovou a assinatura da Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, unindo-se à Igreja Católica e à Federação Luterana Mundial na compreensão deste aspecto teológico. No exercício de sua presidência o revmo. Paulo Lockmann participou de diversos cultos e celebrações ecumênicas ao redor do mundo, representando a comunidade metodista mundial, mas sua própria comunidade é impedida de vivenciar o testemunho conjunto com cristãos e cristãs de diversas confissões e tradições.
O XVIII Concílio Geral aprovou a criação de uma comissão que se incumbiu de revisar a Carta Pastoral sobre o Ecumenismo. Tal comissão deu origem à Carta Pastoral Para Que Todos Sejam Um. Este documento foi chancelado pelos bispos e bispa e nele há orientações para estudo e compreensão da unidade dos cristãos na perspectiva metodista. No XIX Concílio Geral aprovou-se proposta de valorização da Carta, para que a mesma fosse estudada em nível local pelos pastores, pastoras, leigos e leigas. Todavia, até o momento o Colégio Episcopal da Igreja Metodista não tem cumprido seu papel de guardião da unidade orgânica e institucional da igreja e orientado o corpo clerical para o estudo, nem desenvolvido estratégias para a conscientização de sua membresia sobre a concepção metodista da unidade.
e) Lamentamos profundamente o fato de que, a despeito de Carta Pastoral escrita e publicada em 2004, a Igreja Metodista esteja em processo de adoção do G-12 como modelo eclesiológico e doutrinário, contando com a omissão ou mesmo com a comissão das autoridades episcopais. Em diversas regiões e diversos distritos da Igreja Metodista no Brasil igrejas, pastores e pastoras têm sido coagidos e coagidas a adotarem o G-12, muito embora em seus documentos oficiais a Igreja Metodista afirme que “discipulado não é metodologia, mas estilo de vida”. Leigos e leigas muitas vezes tem sua participação em ministérios, como colaboradores ou coordenadores, vedada pelo fato deste membro não ter participado dos Encontros (como são chamados os retiros espirituais de iniciação no modelo em células). Leigos e leigas muitas vezes tem sua participação em Congressos Regionais de Discipulado pelo fato desses membros não terem participado de “escolas de líderes” (muito embora tal figura inexista na legislação canônica metodista) ou não serem “líderes de célula” (adotando inequivocamente a nomenclatura e prática do G-12 que o Colégio Episcopal tão clara e inequivocamente condenou). Tais situações são contrárias aos Cânones da Igreja Metodista, que determinam os direitos e deveres dos membros leigos, e também ao documento Dons e Ministérios, adotado oficialmente pela Igreja Metodista como sua forma de organização eclesial e regulando a participação dos leigos e leigas na vida da Igreja Metodista.
Lamentamos também o processo de deterioração e abandono da Escola Dominical, que tem sido sistematicamente substituída por encontros de células e escola de líderes nas igrejas locais, a perda de representatividade e manipulação dos grupos societários, o abandono da liturgia oficial da Igreja Metodista, o abandono de práticas metodistas como o batismo infantil, o batismo por aspersão e a Ceia do Senhor às crianças.
f) Apelamos ao Colégio Episcopal para que as ações autoritárias e decisões obscuras deem lugar a um amplo processo de diálogo no qual todas as diferentes concepções de missão coexistentes na Igreja Metodista, todas as linhas teológicas representadas em sua membresia leiga e clériga (tradicionais, conservadores, liberais, progressistas, carismáticos e neopentecostais) possam sentar juntos em torno da mesa da fraternidade e da compreensão.

Que este processo amplo de diálogo, com ampla representatividade das diversas vocações, não apenas contando com representantes da linha teológica hegemônica, vise à discussão do conceito de missão, dons e ministérios, vocação e atuação cristã cidadã. Que a pluralidade de pensamento sempre presente na Igreja Metodista seja vista como riqueza, não como ameaça. Que todos e todas sejam estimulados e estimuladas a contribuírem ativamente com a missão que é de Deus, sendo portanto, de todas as pessoas. Que todos e todas tenham sua individualidade e particularidade respeitada, dentro de uma concepção de missão construída coletivamente e conciliarmente, conforme a história e tradição metodista.

Desta forma, subscrevemos este manifesto, na fé, esperança e amor firmados em Jesus Cristo, Senhor da Igreja e Senhor da história, confiantes na atuação do Espírito Santo no mundo e na igreja, mesmo em momentos de obscuridade e fechamento de espaços de convivência, respeito e diálogo.

São Paulo, inverno de 2013, ano do Senhor.




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