Remoção física do Rio de Janeiro
Para: Governo Federal
A intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro foi justificada pelo governo como necessária para derrotar o crime organizado que, segundo o presidente Temer, “quase tomou conta do estado”. O diagnóstico que embasa esse discurso associa o progressivo aumento da violência basicamente à expansão do crime organizado. Sem discutir aqui a eficácia da intervenção para combater essa expansão, nem suas consequências sociais e institucionais, sugere-se que esse diagnóstico é no mínimo insuficiente, uma vez que ignora um elemento central na explicação do aumento da violência que vem se verificando não apenas no Rio de Janeiro, mas em todo o país: a estagnação da economia e a consequente deterioração do mercado de trabalho, que tem registrado o aumento da precarização e do desemprego, especialmente o de longa duração, cujo impacto negativo sobre a estrutura familiar é particularmente relevante.
Certamente, a situação da economia e do mercado de trabalho em particular, não são os únicos determinantes da violência numa determinada região, e a reforma do sistema de segurança pública é parte necessária numa iniciativa que busque sua redução. Todavia, é certo que, enquanto a economia continuar estagnada, o crime organizado encontrará terreno fértil para se expandir, graças ao contingente grande e crescente de trabalhadores subempregados ou sem emprego, sem fonte de renda e desesperados e, em particular, de jovens sem perspectivas de encontrar bons empregos, em parte oriundos de famílias desestruturadas em razão do desemprego dos pais e desiludidos pela quebra das expectativas de um futuro melhor que parecia ao seu alcance até bem pouco tempo atrás.
Para que essa expansão do crime não ocorra, é fundamental que a grande maioria daqueles que procuram emprego possam encontrá-lo. Uma política pública que promova pesados investimentos em infraestrutura urbana, altamente deficitária no Rio de Janeiro e na maior parte das cidades brasileiras, e aumente a quantidade e qualidade dos serviços públicos fornecidos, não só melhoraria diretamente a vida da população, como, ao empregar diretamente muitos trabalhadores, decerto contribuiria nesse sentido. Sem uma ação decisiva desse tipo, ou sem uma retomada vigorosa da economia no país, hoje absolutamente fora do horizonte, dificilmente o aumento da força militar decorrente da intervenção na segurança pública do Estado será capaz de reduzir significativamente e de forma sustentável os índices de violência vigentes.
