Somos todos Suricato. Fica Centro de Convivência: não à política da indelicadeza!
Para: Trabalhadores e usuários da rede de saúde mental, apoiadores da Luta Antimanicomial, amigos e todos que desejam uma sociedade mais inclusiva.
A inserção social, o convívio e as trocas – princípios que norteiam a prática da saúde mental - encontra tradução delicada e sempre singular na experiência cotidiana dos Centros de Convivência. Lugares de sociabilidade, de circulação de corpos, experiências, afetos e idéias, permeada e enriquecida pelo encontro da arte com a loucura, onde a primeira descobre sua dimensão conectora, tornando-se um dos elos e ferramentas de superação da lógica manicomial que segrega e exclui, para melhor dominar.
Esta experiência, em Belo Horizonte, se inaugura na abertura das portas do Centro de Convivência São Paulo. Este universo delicado e potente, que há vinte e três anos funciona no Centro de Apoio Comunitário do bairro São Paulo – espaço público, destinado ao encontro da comunidade - e que por esta razão, acolhe e insere, na pluralidade que constitui a vida comunitária, este dispositivo encontra-se sob o risco de expulsão e perda da hospitalidade que marcou sua história e lhe deu potência. Os gestores municipais querem que o Centro de Convivência “desocupe” o espaço. Uma indelicadeza que confronta o modo de operar da saúde mental. A nossa luta é e será sempre, por delicadeza!
Na vizinhança do Centro de Convivência outro espaço, do qual o empreendimento dos usuários - a Suricato - se fez hóspede: a marcenaria, também deve, pelo desejo dos gestores, ser desocupado pela marcenaria Suricato para receber outra função e abrigar, não se sabe qual, novos projetos.
A inclusão produtiva dos cidadãos em sofrimento mental, objetivo da Reforma Psiquiátrica, em Belo Horizonte responde pelo nome de Suricato Associação de Trabalho e Produção Solidária. Empreendimento criado por usuários da rede substitutiva e sustentado em parceria com a política pública municipal que possibilita a inserção produtiva e cidadã, através da produção e comercialização dos produtos dos grupos de trabalho que o compõe.
A marcenaria, assim como a Suricato, produz de modo artesanal, a cidadania dos sujeitos que a constituem. A resposta à exclusão determinada pelo modo de produção massificado e excludente foi inventada e é cotidianamente sustentada por todos os empreendedores e seus parceiros, dentre os quais, a Prefeitura de Belo Horizonte não só se incluía, mas exercia o protagonismo que cabe aos gestores públicos: produzir condições que oportunizem a todos, e, em especial, aos mais vulneráveis, de pertencer à cidade e exercerem sua cidadania.
Ocupando uma marcenaria pública subutilizada, há dezesseis anos, os empreendedores da Suricato deram-lhe vida e reinventaram seu modo de viver, através da produção e comercialização de seus produtos, mas, sobretudo, através do protagonismo e conquista da autonomia. E foram surpreendidos com a decisão da Prefeitura de dar nova destinação ao espaço, deixando sem condições de trabalho o projeto ali sustentado.
Nacionalmente reconhecidos e exitosos, o Centro de Convivência São Paulo, a Suricato e sua marcenaria não merecem tal tratamento. Não merecem tamanha indelicadeza! Por isto convidamos o poder público a defendê-los e sustentar; e, como propõe a política municipal de saúde mental, dar-lhe condições para ir além, avançando e qualificando, ainda mais, o processo de desinstitucionalização, do qual Belo Horizonte orgulha-se em ser referência nacional.
