Abaixo-assinado Sugestões para alteração do Estatuto da ABP
Para: Presidente da ABP, Tesoureiros e diretores da ABP
CARTA ABERTA À ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria)
Assunto: Alteração do Estatuto
Sr. Presidente:
A psiquiatria constitui-se como ciência autônoma há já dois séculos, desde os primeiros esboços clínico-descritivos de Esquirol, Bayle, Lasègue, Falret, Greisinger, Morel, Khalbaum, passando por Kraepelin, Pinel, Bleuler, Kretschmer, Jaspers e tantos outros.
Seu peculiar método misto – mescla de ciência da natureza e da cultura – exigiu e produziu grandes cientistas da neurociência, tanto quanto filósofos, antropólogos e humanistas.
Como especialidade médica, contudo, em nosso meio tem sido vista com “fácil”
porque “subjetiva”. Como se dois manuais descritivos e a prescrição de um punhado de medicamentos pudesse fazer de alguém um verdadeiro psiquiatra. Nada semelhante ocorre nas outras especialidades.
Num rasgo de ingenuidade filosófica e científica, os que assim pensam são incapazes de compreender que a psiquiatria é objetiva enquanto seu objeto é o ser-humano-doente-psíquico, mas esse objeto evanescente só é apreensível na subjetividade do encontro.
Imprescindível, portanto, a experiência clínica. Mas a psiquiatria é subjetiva quando seu objeto é o cérebro biológico, cuja racionalidade, qualquer que seja o modelo de seu funcionamento, só aparecerá a partir da subjetividade do sujeito cerebrado e cerebrante. Daí a necessidade do fundamento médico.
A Psiquiatria compartilha com o Homem seu dilema de SER um corpo, subjetividade que se objetiva no mundo animal, e TER um corpo, objeto biológico que se subjetiviza no mundo cultural.
A AAP (Associação Acadêmica de Psiquiatria de MG) respeita o direito legal, de todo médico, de exercer qualquer ato médico. A AAP reconhece o esforço de qualquer cidadão que se forma em um curso, visando aperfeiçoar-se. Porém, nem tudo que é legal é também ético e moral.
Assim, a AAPMG, convicta de expressar neste momento os anseios de todos seus
filiados, cujo forte clamor nos jovens acadêmicos e residentes ressoa e repercute nos psiquiatras tarimbados e experientes, solicita à ABP que, em seu novo estatuto, SÓ SE PERMITA CONCESSÃO DE TÍTULO DE ESPECIALISTA EM PSIQUIATRIA A QUEM HAJA CURSADO INTEGRALMENTE RESIDÊNCIA MÉDICA
CREDENCIADA PELO PERÍODO DE, NO MÍNIMO, TRÊS ANOS.
Por uma Psiquiatra feita por psiquiatras, subscrevemo-nos,
Atenciosamente,
Dr. Alan de Freitas Passos
Presidente da AAPMG